sábado, 31 de maio de 2008

78ª FEIRA DO LIVRO, DE LISBOA

Acabei de chegar da Feira do Livro de Lisboa e não resisto em deixar aqui as minhas frescas impressões da mesma.
Dificuldades de estacionamento já se esperava, mas desta vez não tive sorte em conseguir um lugarzinho para o pópó naquelas alamedas bem arborizadas paralelas ao Parque Eduardo VII, daí ter ido meter a viatura no parque subterrâneo, qual foi o meu espanto (embora não me devesse ter espantado!) que por três horas de parque paguei 4,80 Euros…é o que se chama “ir roubar para a estrada”…não bastavam as Gasolineiras!


A Feira está na mesma: ridículos e exíguos pavilhões; farturas; hambúrgueres; gelados; pipocas; gente, muita gente (!); preços que ficam muito aquém daqueles que poderiam ser praticados pelos Editores que aqui eliminam a margem de lucro dos “bandidos dos Distribuidores” (salvo seja!). Algumas Editoras lá tinham a bancazinha para um qualquer autor dedicar o seu livrito e assim se aproveitar daqueles que não resistem a um autógrafo (mesmo quando não fazem intenções de vir alguma vez a ler o livro moldura do dito cujo). Animação: nada! Pois…é um local por demais intelectual para ter direito a outras manifestações de cultura para além daquela que é impressa…nem que fosse música de câmara para animar a festa, caramba!



Fui à BDMania e lá comprei o TPB em formato especial “A Casta dos Metabarões”; o resto já eu tinha tudo, portanto resisti a não quebrar a tradição e lá gastei 13,50 Euros, mesmo já tendo os álbuns da malfadada Meribérica e os Comics da Humanoids Publishing; é que não gostaria de ver a prateleira desequilibrada com apenas o último livro, desculpei-me eu!
A DEVIR, mesmo ao lado, metia dó. Nada de novo, tudo já muito visto, apenas os álbuns em HC dos Piratas do Tiête me suscitou alguma curiosidade; no escaparate do lado “tudo a 5 Euros”, dizia a placa…como se fosse barato!
Não sei se deixei escapar a Sodilivros, corrijam-me se me enganei no nome dos Distribuidores que no ano passado vendiam tudo a 1 Euro. Se deixei, também não me interessa pois já tenho tudo (na minha colecção de álbuns faltam-me apenas uns 5 ou 6 livros do Blueberry e não acredito que os fosse encontrar ali).
Passei pela Bonecos Rebeldes e vi o novo livro BC por 15 Euros; comprei-o e não me arrependi.
Na Gradiva lá estavam os Calvin e FoxTrot; de novo apenas o número dois da Agnes; não comprei, pois não gostei do primeiro.
Na Bizâncio estavam a fabulosa série Baby Blues que a par com a série Zits (da Gradiva) devem ser as únicas a serem editadas quase que ao mesmo tempo do que a edição Norte-Americana.
Nas Edições Afrontamento perguntei pelo quinto e sexto volume da absolutamente fantástica iniciativa da edição traduzida da série integral Peanuts: só no Natal. São 24 volumes e por este andar só daqui a dez anos é que eventualmente estará completa!!!
De BD é isto…de pouca esmola vive o pobre!
Este ano o Grupo Leya lá entrou em força, e quando a polémica estalou eu até tomei o partido do Grupo, pois já estava farto dos mentecaptos do costume da APL. Pensei eu: - Ora ainda bem que há alguém com poder para fazer cair aqueles tipos do seu iluminado pedestal e consigam fazer com que os Dinossauros evoluam, já que não os conseguimos extinguir! Pois, pois! Agora estou aqui para engolir as minhas palavras. Que regabofe, que fogueira (ou feira, como preferirem) das vaidades, que ostentação e que tão mau serviço. Os livros estavam caríssimos, com descontos ridículos; as várias bancas estavam pejadas de “colaboradores” que percebiam absolutamente nada daquilo que estavam a vender (já lá vou com mais pormenor); a tenda central estava cheinha de caixas e era sempá’aviar o freguês; o acesso superior, que dava para a passadeira que dá acesso ao outro lado da feira, entupia a passagem de quem quer que fosse e, mais atento, reparei que, organizada tal como uma fortificação Romana de campanha, tinha as passagens para as Bancas das outras Editoras vigiadas por seguranças e máquinas de detecção para prevenirem que os mais atrevidos levassem o livrinho para casa sem primeiro o pagar. Já nem parecia a Feira do Livro…parecia mais a loja itinerante do Grupo Leya, qual Circo com a sua trupe de ilustres (e não tão ilustres) autores. Claro que fui à banca da BD da ASA! Perguntei ao “colaborador” de serviço (que já o ano passado lá estava) se tinha saído alguma edição para a Feira…a resposta do Sr. Colaborador, com ares de entendido: “Sim, este álbum, O Santuário de Gondwana.”. Fiquei perplexo e não resisti em lhe perguntar: - O Sr. percebe alguma coisa de BD?! Rodeou a pergunta, mas a ausência de resposta pronta foi esclarecedora. A ASA BD é triste e pobrezinha! Comprei o álbum do Titeuf que me faltava, custou-me dez Euros! Se o tivesse procurado com mais afinco numa qualquer grande superfície, provavelmente ter-me-ia custado 3 Euros (ou menos); será que as grandes superfícies têm prejuízo na venda desses livros?! Não me parece. De resto, o que existia nos escaparates dessa triste Banca eram Astérix, Lucky Luke, Spirou da joint-venture com o Público, Thorgal, BlackSad, e os outros títulos editados também com o Público. Repito: que pobreza.
Para me fazer sentir pior, lá se viam os “amigos” a aviarem-se de tudo o que era títulos, a custo zero; sacos e sacos de boa (e má) literatura prá rapaziada! Eu e os outros papalvos, que não são “amigos” de alguém, a pagarem por eles!
Nunca pensei dizer, ou escrever, isto: A APL é que tinha razão! É a minha opinião, e, contrariamente ao que sempre fiz e advoguei, não vou respeitar as contrárias.
Para a próxima vez que for à Feira do Livro não vou ao “Espaço Leya”, como pomposamente chamam àquela chafarica sem vergonha que conspurca o espírito (embora “fraco de” também se poderia prefixar) do que deveria ser uma Feira. Melhorar é possível, sem dúvida; Mas assim não!

terça-feira, 27 de maio de 2008

MIKE MIGNOLA - HELLBOY

Depois de um retiro merecido venho então com mais um post.
Desta feita trago-vos uns dos meus personagens e autores preferidos – se bem que sejam muitos, este ocupa um lugar especial por motivos especiais: foi a minha esposa (Mulher-Maravilha), que embora seja uma leiga na matéria, me ofereceu uma fantástica e enorme action-figure do Hellboy no nosso primeiro Natal; eu não tinha nada sobre o personagem e achei por bem ir ver quem era, em boa hora o fiz!

O Mike Mignola é já rapazinho para quase 48 anos e, como eu, um bocadinho careca…mas com pinta (!). Surpreendam-se, pois não nasceu em território abrangido pela Commonwealth! Embora eu tenha, até então, dado mais primazia aos autores Ingleses, Irlandeses e Australianos, já era hora de voltarmos aos Estados Unidos da América, também, e provavelmente acima de todos, pródigos em grandes mestres dos Comics – não fossem eles os seus criadores.
O Mike Mignola estreou-se em 1980 na Comic Reader com uma ilustração da bela Red Sonja; em 1981 estreou-se como cover artist na Comic Reader #196. A Comic Reader, embora seja uma ilustre desconhecida dos leitores transatlânticos, foi uma publicação fanzine de grande renome onde desfilaram uma plêiade de grandes autores e artistas e onde se estrearam alguns deles; era comandada, nos primeiros anos (1971-1973), por dois grandes nomes dos Comics: Paul Kupperberg e Paul Levitz; o primeiro era editor da DC e o segundo é o actual Presidente da DC Comics e responsável pela linha main-stream da gigantesca editora. Esta fanzine era de enorme utilidade para os “true-believers” da altura, pois trazia, para além das histórias, a referência de títulos publicados por ano de dados personagens dos comics (tipo Harvey Comics; Hanna-Barbera; Strips como Beetle Bailey ou mesmo Superman entre muitos outros) com as devidas cross-references entre personagens e publicações onde elas foram editadas; também era fonte de conhecimento para se saber se alguma revista tinha sido cancelada ou se pura e simplesmente a banca a tinha deixado de receber (as comic-stores não proliferavam na época); por último, a utilidade das previews, para as quais não haviam publicações especificas. É uma referência incontornável na história dos Comics, daí este pequeno destaque.


Depois desta pálida, mas sólida, passagem pela Comic Reader, o Mike passou para a casa das ideias como colorista, ou se preferirem “inker”, das séries “Daredevil”, “Power Man & Iron Fist” em 1983 e, mais tarde, noutros trabalhos no “The Incredible Hulk”, “Alpha Flight” (quem lia as revistas em formatinho da Abril, passou, sem dúvidas pelo trabalho do MM) e no “The Rocket Raccoon limited-series”. Em 1987, na DC, é encarregue de séries como a limitada “The World of Krypton” (vol.2) – escrita pelo grande John Byrne – o Mike Mignola afirmou-se em definitivo na arte e no mundo dos Comics tendo-lhe sido atribuídas novas séries e personagens de renome na Editora; destaco: Gotham by Gaslight (one-shot de 52 páginas e também editado pela Abril), percursora do conceito “Elsworlds”; e a fantástica mini-série “Cosmic Odyssey”, escrita pelo já “postado” Jim Starlin. Os anos 90 foram os anos do Mike; vários foram os trabalhos dele, entre eles o ter ajudado o cineasta Francis Ford Coppola na adaptação ao cinema do romance de Bram Stocker, Dracula; isto depois do próprio Mike o ter adaptado para Comics sob a chancela da Topps Comics.

Em 1994 o Mike recebeu uma proposta para se lançar com uma personagem própria. O Mike ponderou muito bem esta aventura – que para ele era realmente uma grande aventura, pois nunca foi muito de arriscar o que fosse – devido ao estado da Industria dos Comics e à incerteza que é sempre o lançamento de um novo personagem na selva dos leitores, arriscando-se ao esquecimento se esta fosse por eles rejeitada. Ao mesmo tempo, não se considerando um escritor com cabedal suficiente para debutar e fazer vingar um personagem seu por si só, o Mike, no seu primeiro título do seu “soon to be” grande personagem dos Comics, Hellboy, pediu ao seu amigo e anterior colega, John Byrne, que escrevesse o script do primeiro título da série, embora o plot seja do Mike. Então nasceu a história “Seed of Destruction” (1994), a primeira da série – vencedora em 1995 do prestigiadíssimo prémio Eisner para melhor escritor e artista – e que abriu o caminho de largo sucesso do personagem, que já conta com o spin-off B.P.R.D.. A história seguinte, “Wolves of St. August” já foi totalmente escrita pelo Mike, assim como a grande maioria das seguintes. As histórias apoiam-se no horror Lovecraftiano e a arte, abstracta, foi definida pelo Alan Moore como “the German expressionism meets Jack Kirby”; os cenários que figuram nas suas histórias aproximam-se inexoravelmente do estilo Vitoriano e Gótico e a maquinaria ao estilo steampunk; tudo isto funciona de forma magnífica, oferecendo-nos argumentos obscuros mas sempre, paradoxalmente, com humor.


Sucintamente, as histórias assentam na exploração e constante construção dos personagens, ricos quanto ao passado nebuloso, e nas investigações que estes levam a cabo para desvendar mistérios que envolvem, invariavelmente, o paranormal. O mistério principal que a tanto falatório dá azo junto dos fans da série é a própria história do Hellboy, a sua verdadeira origem, o seu propósito no nosso mundo e, claro, a sua enorme, desproporcional, mão de pedra. O Hellboy é um demónio que se recusa a ser um (daí serrar os chifres), conjurado por um mago/feiticeiro que não é outro se não o próprio Rasputine. Este conjurou o Hellboy com intenções de provocar o fim dos dias. Para mais terá que ler a primeira história.


Para ler o primeiro arco completo e em grande estilo, está disponível um generoso volume (primeiro de muitos), hardcover em linho preto com páginas cosidas, pleno de material inédito que eu aconselho veementemente a todos.

sábado, 10 de maio de 2008

DETECTIVE COMICS

A Detective Comics não precisa de grandes apresentações para nós, apreciadores de comics, mas queria fazer aqui uma homenagem a uma das primeiras revistas deste género, que vingou de tal maneira que ainda hoje é publicada, sendo a mais antiga publicação do género com 844 números em 7 de Maio de 2008.
A Detective Comics é, pois claro, uma revista de Super-Heróis em Banda-Desenhada Norte Americana – a este género de revistas dá-se o nome de Comics – editada pela DC Comics que é uma das principais editoras do género nos EUA. A DC Comics é subsidiária da Warner Bros. Entertainment, do Grupo Time Warner, desde 1969. A DC Comics foi fundada em 1934 como National Allied Publications pelo histórico Malcolm Wheeler-Nicholson. O nome DC foi adoptado devido ao seu principal título, a revista que aqui me trouxe, Detective Comics.
Ao longo de várias décadas fez a felicidade da criançada, público alvo das suas publicações, e o terror dos seus Pais, que achavam que só traziam más influências aos seus susceptíveis rebentos. Primeiramente como comic antologista, foi a terceira publicação periódica da editora de Malcolm Wheeler. Endividado, MW foi obrigado a fazer seu sócio o dono da Distribuidora das suas publicações e por sua vez o contabilista deste último também, tendo então sido criada a Detective Comics, Inc. (DC); tudo isto para que MW pudesse saldar as suas dívidas e seguir com a sua paixão. Um ano depois MW foi forçado a sair.
O primeiro número foi para as bancas em Março de 1937 e incluía estórias no género “hard-boiled detective”(para quem não associa o género, aconselho a leitura do título editado pela Meribérica, Hard Boiled do fantástico Frank Miller e desenho do Geof Darrow). Este género era extremamente popular e pode-se ver isso nas capas dos primeiros números da publicação que ilustravam detectives. Também para quem já leu os saudosos Mundo de Aventuras, lembrar-se-á de heróis da altura como Dick Tracy ou mesmo Spirit (num outro tom). A Detective Comics número um estreava-se com um vilão, Ching-Lung (não, não é o Ling-Chung!) que era o arquétipo do Chinês amarelo malvado ao estilo Fu-Manchu; também Samuel Emerson “Slam” Bradley, que por sua vez fazia o estilo dos detectives caracterizados pelos filmes noir da época: barba-rija, cigarros, wiskey ou bourbon puro e beautifull dames. Este detective foi criação dos futuramente célebres Jerry Siegel e Joe Shuster (quem serão?!). Também debutava Cyrill “Speed” Saunders, mais um detective, mas este era um aventureiro; a personagem actual Hawkgirl é sua neta! Estes são os que merecem destaque, mas a revista trazia mais personagens. A capa é da autoria do Vin Sullivan, primeiro editor da revista.
O sucesso desta revista abriu as portas a um admirável mundo novo dos Comics.


Em Abril de 1938 surgia a Action Comics número um (a data na capa era Junho; já nesse tempo tinham essa mania!), com o Homem de Ferro (não, não é o Tony) na sua capa a erguer um automóvel. Este personagem merece um post só dele, devido à rica história sobre a sua criação (sabiam que o original era um homenzinho telepata careca e louco que lavrava a destruição pela humanidade?!). Seja como for, a Action Comics ainda hoje existe com mais de 850 números publicados. Quanto ao Super-Homem, o seu primeiro herói, teve direito a uma publicação só sua em 1939, mas isso é outra história…
Um apontamento: Foi oferecido por este Comic, em estado de conservação NM (Near Mint), o valor de 1.380.000 Dólares...é verdade, tudo isso! Não são conhecidos exemplares nesse estado (9.4 CGC). Existem cinco cópias em VG (CGC 4.0) e apenas uma em VF+ (CGC 8.5)! Em meados dos anos 90 foram vendidas duas cópias VG por 150.000 dólares; hoje estão avaliadas em 500.000 dólares cada um!


Detective Comics famosas:

Número 27 (Maio de 1939): foi a “first appearence” do Batman, que se chamava originalmente “The Bat-Man”, da autoria do escritor Bill Finger e do artista Bob Kane, pese o injusto facto de só ao Bob Kane serem dados créditos pela autoria.


Número 38 (Abril 1940): first appearence do Robin, sidekick do Batman. As vendas aumentaram exponencialmente ao aproximar os leitores alvos deste novo herói. Mais tarde o grande Stan “The man” Lee, em plena crise dos comics, não foi nada burro e adoptou a mesma estratégia para lançar o seu Homem-Aranha. Também é de referir que a esta era, que se caracterizou pelos novos heróis e respectivos sidekiks (Captain America e Bucky, os mais famosos a par dos referidos supra), é chamada Golden Age (Coleccionem Golden Age comics).


Número 225 (Novembro de 1955): first appearence do J’onn J’onzz, mais conhecido por Martian Manhunter, que dispensa mais apresentações.


Finalmente, nos finais dos anos 70 e inícios dos 80, a revista adoptou o formato expandido na publicação “Batman Family” e adicionou estórias de outros personagens, que não o Batman, a solo. Refira-se, em especial, a maravilhosa antologia “Tales of Gotham City” que nos trazia estórias das pessoas comuns de Gotham. Isto porque a “Batman Family” ultrapassou em vendas a Detective Comics e foi necessário dar um “empurrão” a esta última, para evitar o fantasma do cancelamento da publicação. Outra estratégia utilizada foi a criação dos (malditos) crossovers entre as duas revistas que terminavam cada respectivo número com os também famosos cliffhangers. Em 7 de Maio de 2008 foi publicado o número 844 da Detective Comics, com capa de Dustin Nguyen, escrito pelo Paul Dini e desenhado pela dupla Nguyen e Dereck Fridolfs.

É obra!

terça-feira, 6 de maio de 2008

LUCIFER MORNINGSTAR

Quando acabei de ler o tradepaperback "Season of Mists", da série "Sandman", fiquei intrigado com a história de Lúcifer, que se tinha “demitido” das suas responsabilidades de senhor do Inferno, entregando a chave do mesmo ao Dream of the Endless, o personagem principal da série "Sandman", um dos sete Endless . Fiquei muito entusiasmado quando surgiram os primeiros rumores de que a série "Sandman", devido ao seu absoluto sucesso, teria direito a um spin-off. Logo na altura pensei – e não é soberba da minha parte – que um excelente spin-off seria saber o que se passou e viria a passar com Lúcifer Morningstar. Para meu gáudio, o Neil Gaiman também pensou o mesmo: que a personagem que mais mereceria ter a sua própria revista seria o Lúcifer. A DC não achou muita graça à sugestão e levantou algumas questões (leia-se "objecções") ao desejo do Gaiman dar um título ao Mafarrico em pessoa. Sabe-se que nos EUA existem fortes grupos de pressão que se levantam em peso contra certas questões, em especial o sexo e a religião, e, vejamos, o Diabo retratado num comic não seria muito bem-vindo por esses referidos grupos. Isto traria à DC muitas dores de cabeça, ainda mais a morada da Vertigo tem, ou tinha, o número 666 na sua porta! Mas como muitos dólares compram muitas aspirinas e como o Gaiman insistiu e fincou pé nessa personagem, a DC decidiu então encomendar um camião cheio de ácido acetilsalicílico guiado por uma legião de preparados letigators para rebater qualquer cefaleia. Bem-dita a hora!


O Neil Gaiman ofertou ao Mike Carey, na foto, a responsabilidade de escrever esta série, que debutou em 1999 e durou até 2006 com 75 números publicados (11 TPBs com um stand-alone, “Lucifer - Nirvana”) pela chancela da DC/Vertigo. Ao contrário da série Sandman, que teve a colaboração de variadíssimos desenhadores, a série "Lucifer" teve a colaboração quase exclusiva do Peter Gross, do Ryan Kelly e do Dean Ormston nas odd-stories; o número 50 trouxe o Phillip C. Russel (conhecido nos EUA por ter sido o primeiro comic artist a se ter assumido Gay, e cá por nós, que não ligamos ao que os outros gostam ou não gostam, por desenhar o Elric do Roy “the Boy” Thomas); este número 50 foi uma homenagem ao Sandman número 50.


Basicamente, sem spoilers, conta a história do Arcanjo Samael e de como ele se tornou Senhor do Inferno e como e porque ele se fartou de o ser. O Arcanjo preferido de Deus revoltou-se e apoiado por uma legião de outros Arcanjos, Serafins, Anjos e Querubins travou uma guerra contra a facção fiel a Deus, comandada pelo seu irmão de criação, Michael Demiurgos, o Primeiro de Deus. Até aqui todos nós, de uma ou outra maneira, já conhecíamos a história. Após muitos e muitos eons como governante do Inferno, nunca resignado ao seu destino, decidiu desafiar novamente a ordem vigente e criar o seu próprio universo, onde é absolutamente proibido adorar o e quem quer que seja. Abandonando o Inferno, vem para o nosso mundo e abre um bar em Los Angels com o nome de Lux (humm…eu acho que é em Lisboa, mas o Manuel Reis não é nada parecido com este nosso personagem, baseado no personagem criado por Milton no seu “Paradise Lost”) acompanhado por uma poderosa e angustiada amante, Mazikeen, filha de Lilith, a primeira mulher da história do mundo, começa a desenrolar-se de forma complexa, em que mistura religiões, crenças, mitos e seus personagens, numa panóplia de acontecimentos que envolvem alguns dos habitantes deste mundo real, que também trazem surpresas e são, por sua vez, personagens principais no desenrolar da trama. Desde conhecermos figuras míticas de religiões passadas; Demónios cujo nome já os nossos bisavós não conheceram; hordas de Infernos de outras religiões já também há muito desaparecidas; o verdadeiro nome hebreu de Deus, impernunciável segundo os mais devotos, por ser demasiado sagrado: Yahweh; figuras que ainda hoje são parte integrante das nossas religiões e que das quais não sabemos muito, etc, et etc. Conhecemos um Inferno diferente daquele retratado pelo Catolicismo ou mesmo por Dante e conhecemos também uma história teológica do Homem e da criação do Mundo e do Universo muito bem engendrada pela pena do Carey. É um festival de arte misturado com argumentos para quem gosta de pensar e de cruzar conhecimentos.


Na minha opinião será imperativo ler o TPB “Season of Mists” da série "Sandman" e só depois começar a ler o primeiro da série Lúcifer. Preparem a carteira, pois se lerem o primeiro, só param no último. Considerada como uma das melhores séries de comics de sempre, pelos leitores, é um must-read indeed para qualquer amante desta arte.


Podemos ler outros títulos com este personagem: “Secret origins”; “Demon” vol.3; “Spectre” vol.3; “Hellblazer” vol.1; “The Witching” vol.1.

Imperdível!