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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

CID

Acabadinho de chegar de férias, ainda na ressaca do belo nada fazer, trago aqui aquele que é o meu autor favorito (nacional e internacional) num livro editado pela Assírio & Alvim com assinatura de João Paulo Cotrim e do próprio Augusto Cid: “CID”. É uma bela edição encadernada com generosas dimensões (23x29cm) e com um apanhado em 208 páginas dos já longos anos (50) de trabalho do enorme Augusto Cid. Adquiri-o durante as férias e custou-me 31,5 Euros; se compararmos a qualidade de apresentação gráfica desta obra com a anterior "Porreiro Pá" (da editora Guerra e Paz) que custa 22 Euros, vale muito bem a diferença! É uma viagem temática guiada pelo João Paulo Cotrim que nos leva pelo trabalho de Augusto Cid, com alguns cartoons inéditos entre muitos já publicados, e uma excelente entrevista ao homem das artes que é o Augusto Cid, que consegue ainda ser mais do que um excelente cartoonista. Já muito escrevi noutros posts sobre o Augusto Cid e pela simpatia que lhe nutro enquanto paladino de todos nós na crítica destrutiva que faz aos mais diversos personagens da nossa história recente, triste história de atropelos em que os sinistrados somos nós povo. Ainda na ressaca das férias, logo, com alguma preguiça sirvo-me do excerto da entrevista de João Paulo Cotrim ao Augusto Cid em Maio de 2010 que serve de apresentação à obra no sitio da Assírio & Alvim:

«“O cartoonista não tem por obrigação construir seja o que for. Se vemos que alguma coisa está mal, o nosso papel é destruir. Depois há gente que vem atrás e constrói sobre os escombros, mas não é nossa missão fazer crítica construtiva, isso cabe a outros, pensadores, políticos…”1 Talvez escombros seja exagero, mas a obra de Augusto Cid (Faial, 1941), que cumpre agora meio século, alguns estragos cometeu numa ou noutra figura da política nacional, como aliás exemplifica logo o primeiro dos auto-retratos que abrem esta antologia. E se começámos com o olhar do artista sobre o seu corpo, tínhamos de iniciar este texto com palavras suas sobre o seu espírito. O observador, que remete com ironia para pensadores e políticos a missão de construir, mexe com o objecto, incomoda com a perspectiva e a caneta. Pode até pedir desculpa, que não lhe evita dissabores: foi o primeiro desenhador de humor do pós-25 de Abril a ver livros seus apreendidos, sofreu processos e retaliações, antes ainda de outras mais duras e pesadas consequências devido a um acto de cidadania. Em país de coitadinhos sempre prontos a vestir o papel da vítima, preferindo os ademanes da simpatia à simples frontalidade, presos algures entre o cacique e o sabujo, Cid foi malcriado e panfletário, obsessivo e impiedoso, mas acima de tudo lúcido, acutilante e divertido.
João Paulo Cotrim»

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O VERDADEIRO ANIMAL FEROZ

Este blog não é um blog político, nem o pretende ser, obviamente. Mas, não podia deixar escapar o lançamento de mais um livro do meu autor favorito. É verdade, o Augusto Cid (na foto à esquerda) é O meu autor favorito de sempre. É um ilustrador brilhante e o melhor cartunista que Portugal já viu (para mim é, aguentem-se!). Compará-lo, como já o fiz noutro post, ao Raphael Bordallo Pinheiro não será de todo exagerado, mas talvez injusto para ambos. Cada um é e foi brilhante à sua maneira. Cada um deu o seu excelso contributo para chamar o “boi pelo nome”, deixando imagens que comprometem as estórias mal contadas, deixando espaço à História escrita ou inscrita pelo sarcasmo e pela ironia acutilante que, no entanto, denota mais a verdade ou a percepção desta pelo Povo. Bordallo personificou-o na figura do Zé, que é aproveitada (muito bem e ainda bem) pelo Cid. Manguitos…manguitos são o que mais falta fazem e infelizmente o Povo tem sido parco neles (a abstenção não é um manguito!). Pois cada cartoon do Cid é, por si, um manguito em nome de todos aqueles que desconfiam e que têm meio-palmo-de-testa. É um aviso à ”classe” política (que cada vez mais vai tendo menos "classe"), um aviso de atenção que ainda há pessoas inteligentes e cultas, que conseguem discernir a propaganda da verdadeira intervenção e do trabalho concreto com sólidos resultados. Por muito que a “classe” queira um País de licenciados (talvez a um Domingo) em ignorância e apatia política, ainda vão andando por aí alguns que não se deixam comer com tanta facilidade.

Infelizmente já observei, por algumas vezes que já foram demais, pessoas a lerem os cartoons deste e de outros artistas e dizerem “Não estou a ver qual é a piada disto.” (!!!) Pela primeira vez, pensei julgar ser uma exclamação de desabafo e desconsolo de alguém que já não acha graça nem à caricatura da situação politica retratada, por serem já tantas as situações que nos infernizam a vida e comprometem o futuro deste País. Mas não era, de facto era mesmo a incapacidade de compreender e de enquadrar o cartoon na situação real. Ignorância total. Fiquei abismado e tive que explicar ao mentecapto o ponto da situação actual, pelo que obtive a resposta que qualquer político carreirista gosta de ouvir (mesmo que nunca o confesse ou discirna): “Deixa estar, não quero saber; eu estou a borrifar para esses gajos”. Ora que bem! Penso eu. Desde que fui adolescente que ouvi muitas vezes aquela interjeição muito própria da idade: “Estou-me a cagar para os outros” (peço desculpa pelo vernáculo, mas é mesmo assim). O que esta gente não percebe (ora porque não quer, ora porque não tem capacidades para tal) é que de facto se estão a cagar para elas próprias. Mas vamos lá nós tentar fazer perceber a esse pessoal que é importante andarmos informados das acções e dos movimentos da chusma, mesmo dos mais honestos e ímpios que nela habitam.

A Democracia foi uma invenção da aristocracia. Vejamos, da aristocracia inteligente e verdadeiramente iluminada. Na antiguidade clássica, observando a História, a aristocracia percebeu, por experiência passada (“Conhece a tua História”), que faziam mal em hostilizar as massas. Deram-lhes então uma ilusão: a ilusão que teriam de facto intervenção nos desígnios da governação, logo, nos seus próprios desígnios. De facto tinham representatividade, mas quem decidia era a já há muito instalada Aristocracia. Governadores, Senadores, Cônsules, etc., eram todos membros da elite instalada, o nepotismo era corriqueiro, as famílias dominavam na governação por gerações e gerações. Também, no seu tempo, os exércitos eram assim. Hoje não será tanto assim, pois o dinheiro já não se encontra com tanta facilidade nas “velhas famílias”, mais se encontrará nas grandes empresas que movem os seus interesses nas malhas da política, criando “animais ferozes” por todo o lado, por todos os partidos, desde que ferozmente defendam os interesses maiores da economia empresarial e se tivermos sorte, lá pelo meio, o País. No caso Português ainda o cortejo vai no adro, mas havemos de chegar ao “lóbiismo” descarado em que o Povo é de tal forma fácil de estatisticamente ser manipulado que quantos menos se importarem melhor.
Claro que a “classe” não estaria livre, mesmo assim, de se verem a malhas com a populaça. Partidos que regozijam na demagogia inconsequente e completamente desfasada da realidade do mundo em que vivemos poderão vingar, pela mão da populaça que tem o dom para se perder nas suas decisões (atenção ao verbo perder). É um mundo cheio de perigos políticos. Ainda bem que existem pessoas, “Cavaleiros do cartoon”, como o Augusto Cid. Obviamente para mim, Cid é o “Condestável” de todos eles. Aonde quer que encontre uma estória mal contada, uma situação duvidosa, uma “Chico-espertalhice” que nos queira comer por otários, lá estará ele a brandir a sua pena e com esta a avisar a “classe” que se ele viu a marosca, outros também verão com a sua ajuda ou sem ela. Não poupa “Laranjas”, “Rosas”, “Vermelhos”, “Azuis” ou “Vermelhos às bolinhas pretas e cor-de-rosa”. Nesta “classe” é tudo a eito e esta é a virtude principal de um bom cartunista e é a que mais me agrada: “Doa a quem doer” estaria escrito no brasão acompanhado de uma moca de Rio-Maior, um Manguito, uma pena e um tinteiro. Só tenho pena que não doa mais.
Décadas a malhar neles, oposição ou não. Livros como: “O PREC”, “O PREC II”, “O Fim do PREC”; “O Último Tarzan”; “O Superman”; “Eanito El Estático”; "Agarra mas não abuses"; “Bicas e Bocas”; "DEMITO-ME...uma ova!"; “Cão Traste”; “Alto Cão Traste”; “Soares é Fish”; “O Produto Interno Brito”; “O Fenómeno” (com António); "Desculpe o Mau Jeito"; "Viva a Liberdade de Expres..."; "Seguros Cartoon Book". Outros livros como “O que se passa na Frente?”(1ª e 2ª Edição alargada), que testemunham a Guerra Colonial do ponto de vista do combatente, ou “Os cartoons do ano…” (de 1999 a 2008, com excepção do ano 2001 que não teve edição, em parceria com outros autores), são um “must”. Não é só na política que o Augusto Cid mostra o seu talento: ilustrações publicitárias várias, escultura e investigação. Os livros “Camarate” e “Camarate: Como, Porquê e Quem” são imagem da incrível luta do autor para não deixar morrer o muito mal contado (por alguns) caso da trágica morte do Primeiro-Ministro Francisco Sá Carneiro e outros que com ele iriam viajar até ao Porto naquela fatídica noite. Imperdíveis. Alguns destes livros foram apreendidos pelo desconforto que causaram aos visados…coitadinhos!
“Porreiro Pá” custa cerca de 22 Euros, o que é um escândalo, diga-se. O papel é fraquinho, não me venham com a estória que tem 100 gramas e coisa e tal…é fraco e mau. Por este preço, só quem como eu o compra e é por ser um verdadeiro fã do trabalho do homem e que faço questão em guardar um registo que será histórico para uma futura geração que quiser, como eu o fiz, realmente perceber as maroscas e maningâncias da história política relativamente recente. Merecia mais e por menos dinheiro, o que é bem possível nos actuais tempos de Europeização e Globalização. De qualquer forma, eu aconselho com veemência este livro que nos fará sorrir, com azedume, é certo.





Edit: Os pouquissimos cartoons que aqui foram utilizados para ilustrar o imenso trabalho do Augusto Cid pertencem a várias obras dele, tendo todos sido publicados previamente em jornais e revistas portuguesas. Servem apenas para divulgar o autor e não têm qualquer fim lucrativo beneficiando este blog e o seu utilizador. Os meus agradecimentos.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Augusto Cid, o Raphael Bordallo Pinheiro do pós-revolução dos Cravos.


Augusto Cid, Augusto José Sobral Cid (Horta, 1941-) é um cartunista e caricaturista político e ilustrador português. Efectuou estudos do ensino secundário nos colégios Infante Sagres e Moderno e nos Estados Unidos da América. Frequentou o curso de Escultura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Colaborou nos seguintes jornais e revistas: A Parada da Paródia, A Mosca, Diário de Lisboa, Lorentis, Observador, Século, Vida Mundial, O Jornal Novo, Povo Livre, A Tarde, O Dia, O Diabo, Semanário, O Independente, Focus, Grande Reportagem e Sol. Colaborou ainda com a estação televisiva TVI. Cartunista provocador, satirizou frequentemente figuras como Álvaro Cunhal, Pinto Balsemão e Ramalho Eanes (dois dos livros de Cid sobre esta personagem, O Superman e Eanito, el Estático, foram apreendidos judicialmente). A investigação do desastre aéreo de Camarate foi uma das causas que abraçou.
O parágrafo supra é o que a Wikipédia diz, e muito bem! Eu descobri o Sr. Augusto Cid na década de 70 e embora não soubesse ler muito bem, achava muita graça aos desenhos, pois claro! Vivíamos um período em que mesmo não percebendo concretamente o que se passava, sabia que se passava alguma coisa e aquelas caricaturas eram as estrelas que desfilavam nos palcos dos acontecimentos nacionais. Anos depois, já mais maduro, finalmente apercebi-me o que se tinha concretamente - ou quase - passado. Mas como a história contada pelos intervenientes tem sempre várias interpretações, são necessárias pessoas com um espírito caustico que saibam dar uma visão mais profunda daquilo que seria - ou gostariam que fosse - a verdade. Até hoje nunca li nada, com ilustrações ou cartoons, mais abrasivo, do género "meter o dedo na ferida", do que os absolutamente divertidos e assustadores livros do Augusto Cid. O jornal O Diabo, com a Vera Lagoa como directora e o Cid como cartoonista, desmascarava a farra da Politica Portuguesa, e eu adorava! Hoje temos o Contra-Informação, e ainda bem!
A capa do livro que eu incluo aqui foi o primeiro que alguma vez vi, comprado pelo meu Pai. Ainda hoje o leio e farto-me de rir...com um sorrizinho amarelo, por vezes, claro, pois ainda hoje andamos a pagar pela dança das cadeiras e a inexperiência dos personagens aí caricaturados.
A última obra publicada foi O Cavaleiro do Cartoon e podemos, todos os anos e em conjunto com outros caricaturistas também muito dotados (É lá!), ver compilações dos seus cartoons nos livros Cartoons do Ano.
Ficam para a história livros como "O que se passa na frente" com cartoons da sua experiência na Guerra do Ultramar (foi reeditado com mais alguns cartoons que não figuravam na primeira edição); "O Superman"; "Eanito, el Estático"; "O Produto Interno Brito" e muitos outros mais. Um livro da Companhia de Seguros Império, de oferta aos colaboradores, agentes e clientes especiais; nas carteiras de fósforos Quinas durante uns Jogos Olímpicos (que não me recordo quais foram; provavelmente os de Los Angeles); em postais de turismo.
Também fica para a história o seu esforço hercúleo a defender a memória do Primeiro Ministro Sá Carneiro e a tese que este foi assassinado...eu acredito! De leitura obrigatória: "Camarate" e "Camarate: Como, Porquê e Quem".
Para mim, o Sr. Augusto Cid é um dos nomes mais importantes da cultura e informação Portuguesa do século XX e XXI.
Muito obrigado caro Augusto Cid.