Acabadinho de chegar de férias, ainda na ressaca do belo nada fazer, trago aqui aquele que é o meu autor favorito (nacional e internacional) num livro editado pela Assírio & Alvim com assinatura de João Paulo Cotrim e do próprio Augusto Cid: “CID”. É uma bela edição encadernada com generosas dimensões (23x29cm) e com um apanhado em 208 páginas dos já longos anos (50) de trabalho do enorme Augusto Cid. Adquiri-o durante as férias e custou-me 31,5 Euros; se compararmos a qualidade de apresentação gráfica desta obra com a anterior "Porreiro Pá" (da editora Guerra e Paz) que custa 22 Euros, vale muito bem a diferença! É uma viagem temática guiada pelo João Paulo Cotrim que nos leva pelo trabalho de Augusto Cid, com alguns cartoons inéditos entre muitos já publicados, e uma excelente entrevista ao homem das artes que é o Augusto Cid, que consegue ainda ser mais do que um excelente cartoonista. Já muito escrevi noutros posts sobre o Augusto Cid e pela simpatia que lhe nutro enquanto paladino de todos nós na crítica destrutiva que faz aos mais diversos personagens da nossa história recente, triste história de atropelos em que os sinistrados somos nós povo. Ainda na ressaca das férias, logo, com alguma preguiça sirvo-me do excerto da entrevista de João Paulo Cotrim ao Augusto Cid em Maio de 2010 que serve de apresentação à obra no sitio da Assírio & Alvim:
«“O cartoonista não tem por obrigação construir seja o que for. Se vemos que alguma coisa está mal, o nosso papel é destruir. Depois há gente que vem atrás e constrói sobre os escombros, mas não é nossa missão fazer crítica construtiva, isso cabe a outros, pensadores, políticos…”1 Talvez escombros seja exagero, mas a obra de Augusto Cid (Faial, 1941), que cumpre agora meio século, alguns estragos cometeu numa ou noutra figura da política nacional, como aliás exemplifica logo o primeiro dos auto-retratos que abrem esta antologia. E se começámos com o olhar do artista sobre o seu corpo, tínhamos de iniciar este texto com palavras suas sobre o seu espírito. O observador, que remete com ironia para pensadores e políticos a missão de construir, mexe com o objecto, incomoda com a perspectiva e a caneta. Pode até pedir desculpa, que não lhe evita dissabores: foi o primeiro desenhador de humor do pós-25 de Abril a ver livros seus apreendidos, sofreu processos e retaliações, antes ainda de outras mais duras e pesadas consequências devido a um acto de cidadania. Em país de coitadinhos sempre prontos a vestir o papel da vítima, preferindo os ademanes da simpatia à simples frontalidade, presos algures entre o cacique e o sabujo, Cid foi malcriado e panfletário, obsessivo e impiedoso, mas acima de tudo lúcido, acutilante e divertido.
«“O cartoonista não tem por obrigação construir seja o que for. Se vemos que alguma coisa está mal, o nosso papel é destruir. Depois há gente que vem atrás e constrói sobre os escombros, mas não é nossa missão fazer crítica construtiva, isso cabe a outros, pensadores, políticos…”1 Talvez escombros seja exagero, mas a obra de Augusto Cid (Faial, 1941), que cumpre agora meio século, alguns estragos cometeu numa ou noutra figura da política nacional, como aliás exemplifica logo o primeiro dos auto-retratos que abrem esta antologia. E se começámos com o olhar do artista sobre o seu corpo, tínhamos de iniciar este texto com palavras suas sobre o seu espírito. O observador, que remete com ironia para pensadores e políticos a missão de construir, mexe com o objecto, incomoda com a perspectiva e a caneta. Pode até pedir desculpa, que não lhe evita dissabores: foi o primeiro desenhador de humor do pós-25 de Abril a ver livros seus apreendidos, sofreu processos e retaliações, antes ainda de outras mais duras e pesadas consequências devido a um acto de cidadania. Em país de coitadinhos sempre prontos a vestir o papel da vítima, preferindo os ademanes da simpatia à simples frontalidade, presos algures entre o cacique e o sabujo, Cid foi malcriado e panfletário, obsessivo e impiedoso, mas acima de tudo lúcido, acutilante e divertido.
João Paulo Cotrim»
4 comentários:
Está tudo bem contigo? É que consegui acabar de ler este poste sem ter de fazer intervalos para refeições. Ou isto é só a introdução? Abraço!
hehehe! Efeitos das férias: as minhas duas costelas de Alentejano ganham força e subjugam as outras.
Bem vindo de volta é só teias aqui.
Eu tou com o Rafeiro!
Foste "bués da" sucinto!
Repito a pergunta... está tudo bem contigo?
(É que não é normal um post tão pequenino...)
:D
Bom post curto Refem, e bem revindo de férias.
Abraço
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