Depois de um retiro merecido venho então com mais um post.
Desta feita trago-vos uns dos meus personagens e autores preferidos – se bem que sejam muitos, este ocupa um lugar especial por motivos especiais: foi a minha esposa (Mulher-Maravilha), que embora seja uma leiga na matéria, me ofereceu uma fantástica e enorme action-figure do Hellboy no nosso primeiro Natal; eu não tinha nada sobre o personagem e achei por bem ir ver quem era, em boa hora o fiz!
O Mike Mignola é já rapazinho para quase 48 anos e, como eu, um bocadinho careca…mas com pinta (!). Surpreendam-se, pois não nasceu em território abrangido pela Commonwealth! Embora eu tenha, até então, dado mais primazia aos autores Ingleses, Irlandeses e Australianos, já era hora de voltarmos aos Estados Unidos da América, também, e provavelmente acima de todos, pródigos em grandes mestres dos Comics – não fossem eles os seus criadores.
O Mike Mignola estreou-se em 1980 na Comic Reader com uma ilustração da bela Red Sonja; em 1981 estreou-se como cover artist na Comic Reader #196. A Comic Reader, embora seja uma ilustre desconhecida dos leitores transatlânticos, foi uma publicação fanzine de grande renome onde desfilaram uma plêiade de grandes autores e artistas e onde se estrearam alguns deles; era comandada, nos primeiros anos (1971-1973), por dois grandes nomes dos Comics: Paul Kupperberg e Paul Levitz; o primeiro era editor da DC e o segundo é o actual Presidente da DC Comics e responsável pela linha main-stream da gigantesca editora. Esta fanzine era de enorme utilidade para os “true-believers” da altura, pois trazia, para além das histórias, a referência de títulos publicados por ano de dados personagens dos comics (tipo Harvey Comics; Hanna-Barbera; Strips como Beetle Bailey ou mesmo Superman entre muitos outros) com as devidas cross-references entre personagens e publicações onde elas foram editadas; também era fonte de conhecimento para se saber se alguma revista tinha sido cancelada ou se pura e simplesmente a banca a tinha deixado de receber (as comic-stores não proliferavam na época); por último, a utilidade das previews, para as quais não haviam publicações especificas. É uma referência incontornável na história dos Comics, daí este pequeno destaque.
Depois desta pálida, mas sólida, passagem pela Comic Reader, o Mike passou para a casa das ideias como colorista, ou se preferirem “inker”, das séries “Daredevil”, “Power Man & Iron Fist” em 1983 e, mais tarde, noutros trabalhos no “The Incredible Hulk”, “Alpha Flight” (quem lia as revistas em formatinho da Abril, passou, sem dúvidas pelo trabalho do MM) e no “The Rocket Raccoon limited-series”. Em 1987, na DC, é encarregue de séries como a limitada “The World of Krypton” (vol.2) – escrita pelo grande John Byrne – o Mike Mignola afirmou-se em definitivo na arte e no mundo dos Comics tendo-lhe sido atribuídas novas séries e personagens de renome na Editora; destaco: Gotham by Gaslight (one-shot de 52 páginas e também editado pela Abril), percursora do conceito “Elsworlds”; e a fantástica mini-série “Cosmic Odyssey”, escrita pelo já “postado” Jim Starlin. Os anos 90 foram os anos do Mike; vários foram os trabalhos dele, entre eles o ter ajudado o cineasta Francis Ford Coppola na adaptação ao cinema do romance de Bram Stocker, Dracula; isto depois do próprio Mike o ter adaptado para Comics sob a chancela da Topps Comics.
Em 1994 o Mike recebeu uma proposta para se lançar com uma personagem própria. O Mike ponderou muito bem esta aventura – que para ele era realmente uma grande aventura, pois nunca foi muito de arriscar o que fosse – devido ao estado da Industria dos Comics e à incerteza que é sempre o lançamento de um novo personagem na selva dos leitores, arriscando-se ao esquecimento se esta fosse por eles rejeitada. Ao mesmo tempo, não se considerando um escritor com cabedal suficiente para debutar e fazer vingar um personagem seu por si só, o Mike, no seu primeiro título do seu “soon to be” grande personagem dos Comics, Hellboy, pediu ao seu amigo e anterior colega, John Byrne, que escrevesse o script do primeiro título da série, embora o plot seja do Mike. Então nasceu a história “Seed of Destruction” (1994), a primeira da série – vencedora em 1995 do prestigiadíssimo prémio Eisner para melhor escritor e artista – e que abriu o caminho de largo sucesso do personagem, que já conta com o spin-off B.P.R.D.. A história seguinte, “Wolves of St. August” já foi totalmente escrita pelo Mike, assim como a grande maioria das seguintes. As histórias apoiam-se no horror Lovecraftiano e a arte, abstracta, foi definida pelo Alan Moore como “the German expressionism meets Jack Kirby”; os cenários que figuram nas suas histórias aproximam-se inexoravelmente do estilo Vitoriano e Gótico e a maquinaria ao estilo steampunk; tudo isto funciona de forma magnífica, oferecendo-nos argumentos obscuros mas sempre, paradoxalmente, com humor.
Sucintamente, as histórias assentam na exploração e constante construção dos personagens, ricos quanto ao passado nebuloso, e nas investigações que estes levam a cabo para desvendar mistérios que envolvem, invariavelmente, o paranormal. O mistério principal que a tanto falatório dá azo junto dos fans da série é a própria história do Hellboy, a sua verdadeira origem, o seu propósito no nosso mundo e, claro, a sua enorme, desproporcional, mão de pedra. O Hellboy é um demónio que se recusa a ser um (daí serrar os chifres), conjurado por um mago/feiticeiro que não é outro se não o próprio Rasputine. Este conjurou o Hellboy com intenções de provocar o fim dos dias. Para mais terá que ler a primeira história.
Para ler o primeiro arco completo e em grande estilo, está disponível um generoso volume (primeiro de muitos), hardcover em linho preto com páginas cosidas, pleno de material inédito que eu aconselho veementemente a todos.
Desta feita trago-vos uns dos meus personagens e autores preferidos – se bem que sejam muitos, este ocupa um lugar especial por motivos especiais: foi a minha esposa (Mulher-Maravilha), que embora seja uma leiga na matéria, me ofereceu uma fantástica e enorme action-figure do Hellboy no nosso primeiro Natal; eu não tinha nada sobre o personagem e achei por bem ir ver quem era, em boa hora o fiz!
O Mike Mignola é já rapazinho para quase 48 anos e, como eu, um bocadinho careca…mas com pinta (!). Surpreendam-se, pois não nasceu em território abrangido pela Commonwealth! Embora eu tenha, até então, dado mais primazia aos autores Ingleses, Irlandeses e Australianos, já era hora de voltarmos aos Estados Unidos da América, também, e provavelmente acima de todos, pródigos em grandes mestres dos Comics – não fossem eles os seus criadores.
O Mike Mignola estreou-se em 1980 na Comic Reader com uma ilustração da bela Red Sonja; em 1981 estreou-se como cover artist na Comic Reader #196. A Comic Reader, embora seja uma ilustre desconhecida dos leitores transatlânticos, foi uma publicação fanzine de grande renome onde desfilaram uma plêiade de grandes autores e artistas e onde se estrearam alguns deles; era comandada, nos primeiros anos (1971-1973), por dois grandes nomes dos Comics: Paul Kupperberg e Paul Levitz; o primeiro era editor da DC e o segundo é o actual Presidente da DC Comics e responsável pela linha main-stream da gigantesca editora. Esta fanzine era de enorme utilidade para os “true-believers” da altura, pois trazia, para além das histórias, a referência de títulos publicados por ano de dados personagens dos comics (tipo Harvey Comics; Hanna-Barbera; Strips como Beetle Bailey ou mesmo Superman entre muitos outros) com as devidas cross-references entre personagens e publicações onde elas foram editadas; também era fonte de conhecimento para se saber se alguma revista tinha sido cancelada ou se pura e simplesmente a banca a tinha deixado de receber (as comic-stores não proliferavam na época); por último, a utilidade das previews, para as quais não haviam publicações especificas. É uma referência incontornável na história dos Comics, daí este pequeno destaque.
Depois desta pálida, mas sólida, passagem pela Comic Reader, o Mike passou para a casa das ideias como colorista, ou se preferirem “inker”, das séries “Daredevil”, “Power Man & Iron Fist” em 1983 e, mais tarde, noutros trabalhos no “The Incredible Hulk”, “Alpha Flight” (quem lia as revistas em formatinho da Abril, passou, sem dúvidas pelo trabalho do MM) e no “The Rocket Raccoon limited-series”. Em 1987, na DC, é encarregue de séries como a limitada “The World of Krypton” (vol.2) – escrita pelo grande John Byrne – o Mike Mignola afirmou-se em definitivo na arte e no mundo dos Comics tendo-lhe sido atribuídas novas séries e personagens de renome na Editora; destaco: Gotham by Gaslight (one-shot de 52 páginas e também editado pela Abril), percursora do conceito “Elsworlds”; e a fantástica mini-série “Cosmic Odyssey”, escrita pelo já “postado” Jim Starlin. Os anos 90 foram os anos do Mike; vários foram os trabalhos dele, entre eles o ter ajudado o cineasta Francis Ford Coppola na adaptação ao cinema do romance de Bram Stocker, Dracula; isto depois do próprio Mike o ter adaptado para Comics sob a chancela da Topps Comics.
Em 1994 o Mike recebeu uma proposta para se lançar com uma personagem própria. O Mike ponderou muito bem esta aventura – que para ele era realmente uma grande aventura, pois nunca foi muito de arriscar o que fosse – devido ao estado da Industria dos Comics e à incerteza que é sempre o lançamento de um novo personagem na selva dos leitores, arriscando-se ao esquecimento se esta fosse por eles rejeitada. Ao mesmo tempo, não se considerando um escritor com cabedal suficiente para debutar e fazer vingar um personagem seu por si só, o Mike, no seu primeiro título do seu “soon to be” grande personagem dos Comics, Hellboy, pediu ao seu amigo e anterior colega, John Byrne, que escrevesse o script do primeiro título da série, embora o plot seja do Mike. Então nasceu a história “Seed of Destruction” (1994), a primeira da série – vencedora em 1995 do prestigiadíssimo prémio Eisner para melhor escritor e artista – e que abriu o caminho de largo sucesso do personagem, que já conta com o spin-off B.P.R.D.. A história seguinte, “Wolves of St. August” já foi totalmente escrita pelo Mike, assim como a grande maioria das seguintes. As histórias apoiam-se no horror Lovecraftiano e a arte, abstracta, foi definida pelo Alan Moore como “the German expressionism meets Jack Kirby”; os cenários que figuram nas suas histórias aproximam-se inexoravelmente do estilo Vitoriano e Gótico e a maquinaria ao estilo steampunk; tudo isto funciona de forma magnífica, oferecendo-nos argumentos obscuros mas sempre, paradoxalmente, com humor.
Sucintamente, as histórias assentam na exploração e constante construção dos personagens, ricos quanto ao passado nebuloso, e nas investigações que estes levam a cabo para desvendar mistérios que envolvem, invariavelmente, o paranormal. O mistério principal que a tanto falatório dá azo junto dos fans da série é a própria história do Hellboy, a sua verdadeira origem, o seu propósito no nosso mundo e, claro, a sua enorme, desproporcional, mão de pedra. O Hellboy é um demónio que se recusa a ser um (daí serrar os chifres), conjurado por um mago/feiticeiro que não é outro se não o próprio Rasputine. Este conjurou o Hellboy com intenções de provocar o fim dos dias. Para mais terá que ler a primeira história.
Para ler o primeiro arco completo e em grande estilo, está disponível um generoso volume (primeiro de muitos), hardcover em linho preto com páginas cosidas, pleno de material inédito que eu aconselho veementemente a todos.
8 comentários:
Execelente post (como sempre) mas penso que também era bom referir o relativo "abandono" da série desde os tempos que começaram a fazer o 1º filme do Hellboy.
Não fosse a equipa por detrás do BPRD (Guy Davis, John Arcudi entre outros) e veríamos novidades muito de longe a longe. É o único defeito que aponto ao Mignola. Desde o filme que se anda a relaxar demasiado. Queremos mais Hellboy do Mignola (desenho de preferênia já que textos ele está sempre me cima do acontecimento)!!!
Acho que também merecia destaque a graphic novel "Dr. Strange/ Dr. Doom: Triumph & Torment", que foi um dos poucos trabalhos iniciais do M.M. (que na altura ainda assinava Michael Mignola) disponível em português (editado pela Abril, na colecção G.N. em 1991).
Cumprimentos
Grande post Pedro!
Fiquei muito interessado nessa edição e luxo... estive a investigar !
Tem um ou dois arcos (os dois primeiros), essa edição? É que as que eu vejo, assim mais luxuosas te dois arcos e são com dimensões iguais ao FB, é isso?
Era este que estavas a falar:
Hellboy Library Edition Volume 1: Seed of Destruction and Wake the Devil HC
????
Obrigado a todos pelas palavras de incentivo...si num foosse mucho macho inté chóráva...nas palavras do grande analista de Bagé! XD
Realmente as coisas não avançam com a periodicidade que nós e os restantes fans gostariam, mas desde que o home ficou grande não tem parado. Tem andado em vários projectos com muita malta diferente...ele é escritor de novelas, ele é argumentos para cinema, ele é desenhador para outros e para si, claro...enfim, o homem está nas suas sete quintas e, como sempre, a pensar que o mundo acaba amanhã e que tem é que aproveitar a sua maré de boa fortuna. Isto tudo e o facto que se discute que será estratégia editorial não afogar o mercado com continuos Hellboy atrás de Hellboy e assim fazer render o peixe por muitos e bons anos!
Não destaquei a ida ao Inferno do Mefisto pelo estranho e improvável Team-up, pois apeasr de o desenho não esconder o Mike que já havia no Michael, este ainda andava ao sabor dos outros (neste caso com o Roger Stern); se assim fosse preferia dar destaque ao "Fafhrd And The Grey Mouser" (mini-série limitada em 4 comics de 1991) em co-autoria com o Howard Chaykin e que adaptam os contos de um dos maiores do género "Swords and Sorcery" (a par com o grande Robert Ervin): Fritz Leiber.
Mas percebo o teu apontamento; quando li a GN T&T pela primeira vez, também fiquei bem impressionado pela arte e até pelo script.
Tem apenas um arco constituído por duas histórias e sim, é esse mesmo. O número dois já está disponível para pre-order. Não é bem do tamanho de um FB; é um bocadinho menor em comprimento e maior em largura. É uma jóia, com uma lombada que dá gosto de ver na prateleira, tem é que se proteger bem do pó, portanto, quando não se está a ler tem que ficar arrumadinho na prateleira!
Eu já ando para ler Hellboy há tanto tempo e ainda não calhou :(
Ahah, curvo-me perante tão douta explicação! :)
Cump.s
Foi feito um jogo do Hellboy em 2003. Um fiasco e gráficos e jogabilidade muito datados e maus mas estou colado no jogo por casua da estória. Tem umas piscadelas de olho engraçadas às BDs mas não fosse a minha dedicação à personagem já nem tinha pegado no jogo. Mas não deixa de ser engraçado para os fãs.
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