quarta-feira, 13 de agosto de 2008

MORT WALKER

É sem dúvida um dos melhores cartunistas de todo o sempre, os seus personagens marcaram e marcam gerações, desde os mais conhecidos da série Beetle Bailey (Recruta Zero) aos menos conhecidos Boner’s Arc (Arca de Noé).
Como quase todos nós, travei conhecimento com este grande nome dos cartoons através dos gibis brasileiros que até nós chegavam com pelo menos seis meses de atraso (e apenas se houvesse sobras no mercado brasileiro). Eram os anos 70 e os gibis da RGE (Rio Gráfica e Editora) rivalizavam com os da Editora Abril. As histórias eram trabalhadas pelos estúdios brasileiros (com aprovação do Mort Walker) que aproveitavam o fenómeno de publicações das famosas tiras nos Jornais, portanto ainda não tinha mesmo tomado contacto absoluto com o trabalho original do autor. Só mais tarde, com as compilações em formato de tiras (comic strip) é que me assombrou (embora ainda fosse demasiado imaturo para o reconhecer) o seu trabalho genial e o seu maravilhoso dom em nos fazer rir e pensar. A RGE foi a pioneira na publicação do Recruta Zero em língua Portuguesa, mas, de facto, é à "Saber SA, Expansão Industrial e Comercial da Cultura" que se deve a expansão e grande volume de vendas no Brasil com um gibi em formato livro (inventado por Savério Fittipaldi) que dava pelo nome "Zé, O Soldado Raso". Ao contrário dos da RGE, só tinha material original, isto é, made by Mort Walker. Vendia entre 40 a 50 mil exemplares, enquanto os da RGE (actual Globo) "só" vendiam cerca de 12000. Figurou nos nossos jornais há já algum tempo: lembro-me de o ver no “A Capital” e no “Correio da Manhã” quando tinham a boa prática de publicarem tiras.
Nascido em 1923 na cidade de El Dorado no estado do Kansas, mal sabiam os Pais que iriam trazer um tesouro que nos faria ir a todos mais além do que a Dorothy foi (sem querer descurar o também genial Lyam Frank Baum). Prestes a completar 85 anos de idade, Addison Morton Walker é ainda hoje um dos mais populares cartunistas em actividade, com os seus personagens a serem vedetas nas funny pages de cerca de 3000 jornais por esse Mundo fora. Mort Walker detém o recorde do cartunista com o maior número de jornais a publicarem os seus desenhos.
Este seria outro post monstruoso se eu me deixasse levar pela minha paixão pelo autor, portanto tentarei ser breve mas conciso.
Mort Walker começou a desenhar desde muito cedo, aos 11 anos de idade conseguiu ver publicado o seu primeiro cartoon, tendo sido remunerado. A sua paixão pelo género surgiu das suas muitas leituras dos agora clássicos. Milton Caniff (Terry e os Piratas) e Frank Willard (Moon Mullins) foram as suas principais influências. Começou aos 12 anos a coleccionar originais, o que o levou a alcançar, anos depois, o maior acervo do género no Mundo. Arrepiando história, em 1942, aos 19 anos, entrou para o exército e aqui a sua caminhada para o sucesso ganhou maior fôlego, pois foi através desta experiência que adquiriu os conhecimentos necessários para dar vida ao seu maior sucesso, Beetle Bailey. Foi em 1950 que criou Spider (imagem à esquerda), um estudante universitário calão, strip adquirida pela King Features Sindycate. Foi um flop pois não conseguiu ser publicado em muitos jornais (para ter sucesso uma tira teria que ser publicada em pelo menos cem jornais). A King Features estava prestes a cancelar o contrato com o artista quando se deu o início do conflito na Coreia. Aí, Mort fez o jovem Spider, já com o nome de Beetle Bailey, ingressar no exército. Foi o início da caminhada para o sucesso. Depressa se fez notar, de tal maneira que o jornal do exército (Stars & Stripes) também adquiriu os direitos de publicar o herói. Foi exactamente com esta passagem pelo Stars & Strips que o Mort Walker e o seu Beetle Bailey foram catapultados para o absoluto sucesso; isto porque o jornal, ao fim de algumas tiras, decidiu cancelar a publicação por achar que denegria e ridicularizava a imagem dos oficiais em geral. Tal foi a cobertura mediática da medida que fez disparar as vendas dos direitos da publicação da tira noutros jornais. A tira e seus personagens geraram sempre muita discórdia em variadíssimos meios da sociedade Norte-Americana: fosse por dar uma imagem estereotipada dos Negros (Tenente Mironga, Lt. Flap no original), fosse pela imagem das mulheres (Dona Tetê, Miss Buxley no original), ou fosse pela imagem estereotipada dos jovens do interior, ou mesmo dos jovens mentalmente retardados (Dentinho, Zero no original), entre muitas outras. Tiras censuradas foram mato (Ex: Miss Buxley em biquini); no entanto fez um trabalho para um editor Sueco onde a própria Miss B. aparecia nua…um editor Norte-americano viu-a e pediu-lhe para a editar nos EUA em edição limitada: esgotou em menos de nada!
Quando a Guerra da Coreia terminou, Mort achou que a imagem do soldado já não se coadunaria com os novos tempos, então trouxe o Beetle Bailey para casa e criou-lhe uma família. Foi uma cartada aparentemente mal jogada, pois os milhões de fans exigiram o regresso do jovem recruta ao quartel (Swampy) comandado pelo inesquecível General Dureza (General Halftrack), o que aconteceu logo ao fim de apenas duas semanas. “Aparentemente mal jogada”, mas apenas aparentemente, de facto a criação da família do Beetle Bailey deu origem a um spin-off de estrondoso sucesso: Hi & Lois (A turma da Zézé - imagem à esquerda). Esta nova série de cariz familiar foi e ainda é uma das tiras de maior publicação no mundo dos periódicos, nas suas páginas dedicadas aos Funnys e aos Comics, sejam diárias ou dominicais (normalmente a cores e de página inteira). Eram os anos 50 e as famílias em geral retratavam-se nas cenas dos seus simpáticos personagens. Personagens que ao longo dos anos evoluíram sempre a par com os tempos. É com Hi & Lois que começou uma parceria de grande sucesso: primeiro entre Mort Walker (textos) e Dik Browne (desenho), depois com os filhos de ambos. Dik Browne posteriormente criaria o famosíssimo Hagar o Horrível, que é, desde a morte de Dik em 1989, continuada pelo seu filho, Chris Browne. A série Hi & Lois é agora criada por Brian Walker, Greg Walker e Chance Browne.
Outra série de algum sucesso (pouco conhecida entre nós, excepção feita ao Brasil que a viu publicada pela Abril) foi “Boner’s Arc”. Contava as desventuras de um capitão de uma arca de Noé que era muito pouco respeitado pela bicharada e pela sua própria mulher (o que era recíproco, por sinal). Fica aqui o cross-over da série com o Beetle Bailey. Mort assinava esta série com o seu primeiro nome, Addison, devido ao facto de o King Features Sindycate ter achado que já assinava demasiadas tiras com o seu usual pseudónimo.
Entre os seus trabalhos mais apreciados pelos próprios cartunistas e todos aqueles que se querem iniciar na arte são as obras “Backstage at the Strips” e “The Lexicon of Comicana”. A primeira reflecte um olhar pessoal do autor pelos bastidores da criação de comic-strips e a segunda faz um apanhado de todos os termos criados pelo Mort e que devem ser usados na elaboração de uma comic-strip.
No inicio da década de 60, em conversa com o seu amigo Dik Browne, surgiu-lhe a dúvida existencial da razão pela qual os cartunistas não terem o respeito merecido pelo seu trabalho. Dik disse-lhe que era por não terem um Museu onde pudessem exibir os seus trabalhos. Walker que era dono de uma fabulosa colecção sobre o tema decidiu criar um. Depois de várias localizações, a última em Boca Raton na Florida, encontra-se agora fundido com a Universidade do Ohio e está localizado em Columbus. Vejam os links: http://drawn.ca/2008/07/17/mort-walkers/ e http://www.cartoon.org/. A imagem é a da Hall of Fame do Museu e tem o nome do famoso mediashark William Randolph Hearst. A título de curiosidade, o magnata fazia questão de ser ele a aprovar todas as tiras que eram publicadas nos seus jornais, a tira do Beetle Bailey foi a última que pessoalmente aprovou.
Outras situações curiosas poderiam aqui ser descritas, mas como não quero me alongar mais deixo apenas mais duas:
Em 1952 ajudou um colega seu que não conseguia ver as suas tiras publicadas, o seu nome e personagens? Charles Schultz e os seus Peanuts!
O private Beetle Bailey só mostrou os olhos uma vez numa tira onde ainda era apenas o universitário calão (esta tira nunca foi publicada num Jornal, apenas é possível vê-la nas edições especiais sobre o personagem e seu autor; a imagem em baixo foi retirada do livro da L&PM "O Melhor do Recruta Zero Vol.1"); na revista MAD de Abril de 1969 tiraram-lhe o chapéu e lia-se na testa “Get out of Vietnam”. Personagens como Hi & Lois Flagstone (com Dik Browne), Sam & Silo (em co-autoria com Jerry Dumas), Sgt. Orville P. Snorkel, Otto, Plato, Zero, Gen. Halftrack, Martha Halftrack, Miss Buxley, Miss Blip, Bunny, Killer, Cookie, Lt. Sonny Fuzz, Rocky, Cosmo, Cpt. Sam Scabard, Major Greenbrass, Lt. Jack Flap, Julios, Dr. Bonkus, assim como as suas participações filantrópicas nas mais variadíssimas lutas contra os mais variados flagelos, farão sempre parte do nosso colectivo. Actualmente a tira é trazida até nós por um dos nove filhos do Mort, Greg Walker, no entanto todo o trabalho do estúdio ainda é supervisionado pelo Mort.
Para quem quiser ler mais, aconselho que adquiram o maravilhoso livro biográfico do Mort Walker: “Mort Walker’s Private Scrapbook”. As comic-strips do Beetle Bailey são normalmente reeditadas todos os dois anos, brevemente sairá uma com os primeiros anos do personagem em hardcover e poderá ser adquirida na Amazon.com; também será possível adquirir no eBay a série limitada editada pela Dark Horse com quatro títulos disponíveis (Miss Buxley, Gen. Amos T. Halftrack, Beetle Bailey e Sgt. Snorkel), cada um traz uma figura de vinil (não confundir com as valiosíssimas Syrocos – ver imagem das reedições Syroco elaboradas pela YOE!Studio). Outras como a Boner’s Arc serão muito mais difíceis de encontrar, tentem o mercadolivre.br. A “Hi & Lois Sunday Pages” também se podem encontrar na Amazon. Vejam o link: http://www.mortwalker.com/ para mais informações.

Com a máxima do inesquecível Beetle Bailey me despeço,

“Never let to tomorrow what you can do the day after.”

9 comentários:

crucios disse...

n conhecia... onde é que arranjamos os comics? aí do recruta zero xD

Anónimo disse...

Eu lembro-me de ver pub ao Zero nas bds antigas do Hulk da abril,nos mumeros muito antigos que eu arranjavas ou nas bancas ou alfarrabistas.
Mas tenho quase a certeza que numca comprei nenhuma bd dele.

Anónimo disse...

Rapaz... eu coleccionava todas as revistas do Zero que conseguia deitar a mão, incluindo os livrinhos de bolso só com as piadas do recruta Zero originais do Mort Walker. :-D
Com estes últimos posts acho que vou vasculhar na minha Bd antiga de novo por tua culpa. ehehehehehe...

refemdabd disse...

São gibis dos anos 60 aos 80; podes arranjá-los nos site do eBay Brasileiro (mercadolivre.br). Os originais Norte Americanos custam uma pipa de massa (anos 50) mas existem mais recentes, procura no eBay.com. As compilações podes encontrá-las na Amazon.com (Best of Beetle Bailey; Best of Hi and Lois; Beetle Bailey Celebration; e vai sair brevemente as compilações dos dois primeiros anos em HC, também na Amazon.com). Se quiseres acompanhar as tiras diárias vai ao Google e faz um search por Beetle Bailey, depois procura um jornal online e vê.

"...números muito antigos..." caso para dizer: sou mesmo um ganda cota!!! Esses números comprei-os quando sairam!

Pois é! Também eu foi desencaixotar esses gibis! Capitão BigBom; Turma do Crás; Speed Racer; Super Mouse; Fix e Fox; Supermino; O Recruta Zero; Luluzinha; Bolinha; Pernalonga; Gaguinho; Os Monstrinhos; A turma do Arquimedes; O Sitio do Pica-Pau Amarelo; Pelézinho; Turma da Mónica (Abril); As Melhores Piadas do(a)...; A turma do Cácá; Os Trapalhões (da Bloch); e outros, muitos outros. Foi um revivalismo completo.

Nuno Amado disse...

O Recruta Zero faz-me saudades... sigh...
Já mandei o layout :)

refemdabd disse...

Como podem ver, apliquei o novo html que o Bongop teve a amabilidade de me enviar. É estranho e ainda me estou a habituar, mas parece-me ser bem melhor, i.e., parace-me que a leitura se tornou mais fácil, pese o facto de os posts já efectuados terem sido elaborados em virtude do antigo modelo, daí o desnivelamento das imagens.

Digam-me lá o que é que acham, por favor.

Anónimo disse...

"Digam-me lá o que é que acham, por favor."

Muito bom. :-)

Anónimo disse...

GoSTEI. :)

Loot disse...

Xiiiii o Zero, do que é que tu te foste lembrar eu fartava-me de o ler quando era miúdo juntamente com os da Turma da Mónica e agora lembrei-me da Turma do Arrepio mas este li pouco acho que não era tão bom.
Bons tempos, fiquei com saudades agora :P

Abraço