Nariz de ervilha, carinha redonda, faces rosáceas, tamancos nos pés e guarda-chuva debaixo do braço, lá foi a ingénua e provinciana Bécassine viver, qual Cândido de Voltaire, as suas aventuras no Mundo. Objecto de estudos, como o do Historiador Bernard Lehambre em “Bécassine, une legende du siècle”, este personagem é de facto merecedor de tal, pois ela é a pioneira da mulher activa e moderna, que se multiplica em profissões, pratica desportos, faz fotografia, pilota automóveis, aviões, comboios e milita em programas humanitários como a Cruz-Vermelha (1ª Grande Guerra). Eu, embora seja um grande admirador do personagem, não sou o fã que é a bloguista Sheila Leirner, que assim a descreveu. Portanto não arranjei melhores palavras, daí ter descaradamente e praticamente transcrito as dela.
Bécassine é reconhecidamente a primeira heroína feminina protagonista na história da Banda-Desenhada. Criada quase que à pressa para, em 2 de Fevereiro de 1905, preencher uma página em branco de uma revista que tinha como alvo as moçoilas do início do século XX, “La Semaine de Suzette”, tornou-se num fenómeno de sucesso, pelo que essa página passou a ser obrigatória no semanário. Só em 1913 é que Bécassine teve direito a ser publicada em formato de álbum. Até 1939 foram publicados 25 álbuns, tendo em 1992 sido lançado o vigésimo sexto álbum que não foi publicado anteriormente devido ao início da Segunda Guerra Mundial. Em 1959 reiniciou-se a série, com outros autores (o primeiro escrito por Camille François e desenhado por Trubert; os outros dois escritos e desenhados por Trubert). No entanto, as aventuras vividas pela Bécassine na primeira série (que para além dos 25 álbuns ainda contou com mais dois álbuns “fora da série”) ainda hoje são reeditadas. Teve também direito a adaptação cinematográfica em 1939 e a uma longa-metragem de animação em 2001.
Os seus criadores foram inicialmente Jacqueline Rivière (escritora) e Joseph Porphyre Pinchon (desenhador). A partir de 1913, com a evolução para histórias mais estruturadas, a escrita passou a estar ao cargo de Caumery – pseudónimo de Maurice Languereau – um dos associados da Gautier-Languereau, editora responsável pela edição do semanário “La Semaine de Suzette”. Nessa altura foi revelado o nome do personagem: Annaïk Labornez. Todos os álbuns da série foram desenhados pelo talentoso Pichon, com excepção de dois: “Bécassine Chez les Alliés” (número três, de 1917) e “Bécassine Mobilisée” (número 4, de 1918) que foram desenhados por Edouard Zier. Caumery morre em 1941, mas o seu pseudónimo continuará a ser utilizado por outros escritores. Pinchon morre em 1953 e em 1959 Trubert retoma a série; apesar de talentoso, não logrou desenhar mais do que três álbuns.
Bécassine é, indubitavelmente, a precursora da Banda Desenhada Franco-Belga moderna. Marca profundamente a passagem dos contos ilustrados para a verdadeira Banda Desenhada, ou arte sequencial. O seu estilo de desenho, com linhas vivas, modernas e redondas, definiu a chamada “ligne claire” da qual “As Aventuras de Tintin” são, 25 anos depois de Bécassine, o mais bem conseguido e atingido resultado final (Jacques Martin, Pierre Jacobs, Ted Bennoit, Daniel Torres, entre outros, também são exemplares em empregarem esse estilo).
Bécassine é uma jovem empregadinha Bretã, costumizada no traje tradicional e é desenhada sem boca (embora o traje seja mais associado ao habitantes da província Francesa do Norte, Picardy, ela é descrita como sendo da Finistère, Bretanha). Basicamente é um estereótipo da imagem pela qual os Bretões de então eram vistos (ou imaginados) pelos citadinos. Ela é a rapariguinha humilde e de tratos simples da província, vista pelos olhos dos citadinos mais refinados de Paris (publico alvo da “Semaine de Suzette”). Ao longo da série, fruto do sucesso do personagem, é cada vez mais e mais favoravelmente retratada.
Apenas possuo um álbum desta verdadeira heroína e mãe da Banda Desenhada, o quinto, “Bécassine en Apprentissage” (ed.1919); está em excelente estado de conservação e é uma das jóias na minha colecção. Tenho pena de não ter um scanner de grandes dimensões para poder partilhar com vocês a imagem deste e doutros álbuns de maiores dimensões. Está na minha lista de compras a fazer, para poder trazer uma nova rubrica a este blog: Jóias da minha colecção…se calhar parece um bocado pretensioso, mas garanto-vos que não, tenho lá jóias que são de latão, mas para mim valem como o ouro.
Bécassine é reconhecidamente a primeira heroína feminina protagonista na história da Banda-Desenhada. Criada quase que à pressa para, em 2 de Fevereiro de 1905, preencher uma página em branco de uma revista que tinha como alvo as moçoilas do início do século XX, “La Semaine de Suzette”, tornou-se num fenómeno de sucesso, pelo que essa página passou a ser obrigatória no semanário. Só em 1913 é que Bécassine teve direito a ser publicada em formato de álbum. Até 1939 foram publicados 25 álbuns, tendo em 1992 sido lançado o vigésimo sexto álbum que não foi publicado anteriormente devido ao início da Segunda Guerra Mundial. Em 1959 reiniciou-se a série, com outros autores (o primeiro escrito por Camille François e desenhado por Trubert; os outros dois escritos e desenhados por Trubert). No entanto, as aventuras vividas pela Bécassine na primeira série (que para além dos 25 álbuns ainda contou com mais dois álbuns “fora da série”) ainda hoje são reeditadas. Teve também direito a adaptação cinematográfica em 1939 e a uma longa-metragem de animação em 2001.
Os seus criadores foram inicialmente Jacqueline Rivière (escritora) e Joseph Porphyre Pinchon (desenhador). A partir de 1913, com a evolução para histórias mais estruturadas, a escrita passou a estar ao cargo de Caumery – pseudónimo de Maurice Languereau – um dos associados da Gautier-Languereau, editora responsável pela edição do semanário “La Semaine de Suzette”. Nessa altura foi revelado o nome do personagem: Annaïk Labornez. Todos os álbuns da série foram desenhados pelo talentoso Pichon, com excepção de dois: “Bécassine Chez les Alliés” (número três, de 1917) e “Bécassine Mobilisée” (número 4, de 1918) que foram desenhados por Edouard Zier. Caumery morre em 1941, mas o seu pseudónimo continuará a ser utilizado por outros escritores. Pinchon morre em 1953 e em 1959 Trubert retoma a série; apesar de talentoso, não logrou desenhar mais do que três álbuns.
Bécassine é, indubitavelmente, a precursora da Banda Desenhada Franco-Belga moderna. Marca profundamente a passagem dos contos ilustrados para a verdadeira Banda Desenhada, ou arte sequencial. O seu estilo de desenho, com linhas vivas, modernas e redondas, definiu a chamada “ligne claire” da qual “As Aventuras de Tintin” são, 25 anos depois de Bécassine, o mais bem conseguido e atingido resultado final (Jacques Martin, Pierre Jacobs, Ted Bennoit, Daniel Torres, entre outros, também são exemplares em empregarem esse estilo).
Bécassine é uma jovem empregadinha Bretã, costumizada no traje tradicional e é desenhada sem boca (embora o traje seja mais associado ao habitantes da província Francesa do Norte, Picardy, ela é descrita como sendo da Finistère, Bretanha). Basicamente é um estereótipo da imagem pela qual os Bretões de então eram vistos (ou imaginados) pelos citadinos. Ela é a rapariguinha humilde e de tratos simples da província, vista pelos olhos dos citadinos mais refinados de Paris (publico alvo da “Semaine de Suzette”). Ao longo da série, fruto do sucesso do personagem, é cada vez mais e mais favoravelmente retratada.
Apenas possuo um álbum desta verdadeira heroína e mãe da Banda Desenhada, o quinto, “Bécassine en Apprentissage” (ed.1919); está em excelente estado de conservação e é uma das jóias na minha colecção. Tenho pena de não ter um scanner de grandes dimensões para poder partilhar com vocês a imagem deste e doutros álbuns de maiores dimensões. Está na minha lista de compras a fazer, para poder trazer uma nova rubrica a este blog: Jóias da minha colecção…se calhar parece um bocado pretensioso, mas garanto-vos que não, tenho lá jóias que são de latão, mas para mim valem como o ouro.