
Manga, pois então (desculpa lá Verbal!)! Tornou-se um vício difícil de contornar, felizmente um “bom vicio”. Tenho lido (leia-se, devorado!) série atrás de série. Todo este entusiasmo não advém só das narrativas extremamente bem elaborados e dos desenhos que as exprimem, também advém da própria cultura japonesa que se vai abrindo para além da até agora estreita e um tanto ou quanto mal concebida ideia que dela fazia. O género e estilo Manga são extremamente ricos e ainda só agora os comecei a experimentar, mas acredito já distinguir o que gosto e o que não gosto muito…acho! Pela minha idade, uns belos (AH-HUM!) 40 aninhos, mas com um coração de moço novo (até me engasguei!) consigo apreciar em especial dois estilos demográficos de Manga que, à partida, até poderão parecer muito colados: o Shonen e o Seinen. De facto estes dois estilos são bem distintos no conteúdo.
Por vezes apetece-me Seinen e outras vezes só tenho pachorra para Shonen. Já li Josei (para mulheres) e desfolhei algumas Shojo (para miúdas) e não fizeram, realmente (é bom sinal!), o meu género; mas não deixou de ter o seu interesse.
Shonen é um género de Manga para jovens que irão dos 11 aos 18 anos

Em alguns Seinen figuram personagens na idade típica dos Shonen, como personagens em idade escolar, mas as interacções são, em comparação aos Shonen, mais violentas, mais retorcidas e com cenas de sexo ou nudez, logo demarcando-se do público mais juvenil dos Shonen, onde também existe violência e nudez e sexo sugerido mas mais suave. É preciso entender que o
Japão tem um conceito muito diferente do ocidente em matérias de censura a conteúdos, existem algumas séries que no Japão são Shonen, mas no ocidente são consideradas para maiores de 18 anos; o contrário também se observa (Seinen que no ocidente têm classificações para 16 anos). O Shonen tem mais cenas de acção, e o espírito implicado nos argumentos servem de exemplos ou guia de conduta e preparação para os jovens que lêem este género de Manga. A orgulhosa, e muito diferente em muitos aspectos, cultura japonesa está expressa na Manga e é indissociável do povo japonês, a ênfase dada aos valores considerados bons na sociedade ajudam a preparar as gerações futuras através da leitura da Instituição que a Manga é. Daí que seja comum ler
argumentos pejados de situações de camaradagem, jogos de equipa com superação de desafios, competição e perseverança, em que a vitória deve ser alcançada com todo o esforço e mais algum e em alguns casos a todo o custo, num conceito moral que nos ultrapassaria, mas longe de ser hipócrita ou apenas de querer parecer politicamente correcto. Em geral, os Seinen contêm personagens com idades compreendidas entre os 20 e os 40 anos, e exploram os problemas e solicitudes típicas da idade, aprofundando vertentes que podem ir desde a introspecção, dos negócios à política, da História à ficção científica, com referências e níveis de complexidade que exigirão uma bagagem cultural e mesmo vivência empírica que os mais novos ainda não têm, isto para além da muito provável seca que apanham com assuntos tão aborrecidos. Também existe Manga que foi crescendo com os leitores, por exemplo a série “Cavaleiros do Zodíaco” começou por ser um Shonen e, acompanhando os leitores que se afeiçoaram à série, cresceu com eles e tornou-se um Seinen. Outra, das grandes diferenças, encontra-se numa faceta que para nós ocidentais estará na mão do tradutor: a escrita. Os Seinen são escritos com Kanji de nível universitário.



O sistema de escrita japonês não foi inventado numa base totalmente original, ao invés, conforme


Apesar da escrita e leitura ser um “bico-de-obra”, a língua falada é considerada simples de aprender…enfim…dizem que sim!


Existem Mangas para todos os gostos e preferências, dentro das demografias há diversos géneros: policiais, super-heróis, terror, ficção científica, costumes, agricultura…agricultura?! Pois é! Vai buscar-se de tudo. Os diferentes géneros de literatura estão difundidos por todas as culturas, mas nos Mangas estão deliciosamente estratificados a grupos de interesse variados. A existência de variadíssimas temáticas é um apanágio da Manga (assim como da Anime, o cinema de animação japonês).
Posto isto, cá vão algumas sugestões de leitura:



Ainda nos costumes, e estando eu tão interessado no frenesim que é a Manga, dei uma
oportunidade a uma série que normalmente deixaria passar: “Genshiken”, que são as iniciais para “Gendai Shikaku Bunka Kenkyuu Kai" (Sociedade Para o Estudo da Cultura Moderna Visualmente Dirigida). Está muito bem escrito e o desenho é muito divertido. Simplesmente é um retrato ao estilo de vida denominada por “Otaku”, com visões partilhadas por quem a vive por dentro e por fora. “Otaku” (おたく), que literalmente significa “seu lar”, é um termo usado no Japão para designar um fã por um determinado assunto, seja qual for. No imaginário japonês, a maioria dos Otakus são indivíduos que se atiram de forma obsessiva a um hobby qualquer. No ocidente a palavra é utilizada como uma gíria para rotular fãs de Animes (cinema de animação japonês) e Manga em geral, numa clara mudança de sentido em relação ao idioma de origem do termo. Muitos membros da comunidade acham o termo ofensivo por não concordarem com a distorção de sentido do mesmo, recusando-se a serem assim chamados. O termo é normalmente utilizado apenas dentro da comunidade de fãs de Anime e Manga e de fluentes no idioma japonês, sendo portanto desconhecido para o grande público. A aplicação do termo tem origem no humorista e escritor japonês Akio Nakamori, que reparou que o termo era muito utilizado pelos fãs de Anime e Manga, tornando-a tragicamente popular quando a publicou num livro seu em 1989, “M no jidai”, para caracterizar o personagem principal; este livro baseava-se na história verídica de um assassino em série, Tsutoma Miyasaki, fã de Manga, que se deixava consumir pela sua obsessão recriando cenas das suas Manga preferidas, que recriava e fazia terminar em estupro e assassínio. Portanto, na época, criou-se um grande tabu em volta do termo e ele passou a ser usado de forma pejorativa para designar qualquer indivíduo que se torna obcecado demais em relação a um determinado assunto. Com o tempo
o termo tornou a entrar no léxico e define, no Japão, já sem o estigma de Tsutoma Miyasaki, a afeição por um determinado hobby, seja ele qual for (computadores – pasokon otaku; videojogos – gemo otaku, etc.). Genshiken debruça-se no clube universitário com o mesmo nome que é subsidiado pela instituição. Os membros desse clube utilizam o orçamento para Manga, jogos e Cosplay (que consiste em recriar um personagem de ficção vestindo-se e agindo, nos casos mais extremos, como o personagem escolhido; não foi originalmente criado no Japão) e vivem e respiram toda a cena artística ligada ao mundo da Anime e Manga. Vivem-se situações engraçadas quando dois mundos diferentes colidem: um dos jovens que se junta ao clube Genshiken é bem-parecido e completamente distraído em relação ao que o rodeia, em especial a uma bela jovem que tudo tenta para o atrair. Essa jovem não percebe o mundo otaku, logo dá azo a muitas cenas divertidas e caricatas. Tudo isto é mexido com uma grande sensibilidade pelo autor, Kio Shimoku, que ora com humor ora com muita seriedade nos dá um retrato da sociedade japonesa (e não só, convenhamos) em especial destes jovens intervenientes um tanto ou quanto desfasados ou, melhor, incompreendidos pela sociedade em geral, a caminho de se tornarem adultos. Está classificado como um Seinen, mas aconselharia a sua leitura a jovens a partir dos 14/15 anos. Publicada em Inglês pela Del Rey, conta com o total, já fechado, de 9 volumes.


Outra série, já atrás referenciada, é o “The Kurosagi Corpse Delivery Service”. Série Shonen


“Ikigami” é um Seinen que assenta no actual pressuposto que a vida é um dado adquirido e que


Estou a ler outras séries, algumas já foram referenciadas num outro post, como o absolutamente

Sendo ainda novo neste género ou estilo de BD, já dissequei muitas das suas facetas que me fazem crescer o prazer na leitura. Sendo bastante
complicado obter títulos mais antigos, que remontam ao séc. XIX e meados do séc. XX, por não haver traduções, tenho que me recorrer à internet para os compreender e com isso obter mais cultura Manga para melhor atingir as imensas referências existentes nos actuais títulos. Espero que com todo este post ter sido de alguma ajuda a quem procura também melhor entender o género ou estilo. No que me toca, deu-me um trabalhão recolher toda esta informação em diversas fontes (bem-dita internet), mas foi bastante satisfatório. Se ainda estiver alguém a ler estas últimas linhas, poderá pedir-me a T-shirt “Eu consigo ler um post do Refém da BD até ao fim!”, existem na variante “…sem tomar drogas!” e “…sem adormecer!”. Beijinhos e abraços.
